Tinha nos lábios o sabor dos lábios dela, sentia ainda aquele gostinho do seu carinho e no rosto as carícias que ela lhe tinha dado durante todo o dia… E recordava… Os últimos beijos foram trocados no fim da tarde, dentro do carro dele, antes de irem cada um para seu lado. Abraçaram-se intensamente, como se tivessem medo de se perderem na vertigem da vida, como se receassem nunca mais poder voltar a fazê-lo…
Tinham-se encontrado logo pela manhã num local afastado das casas de ambos. Sabiam que viviam um amor proibido e que este não poderia ficar ao alcance dos olhares de pessoas indesejadas, sabiam que tinham de resguardar e proteger aquilo que de mais bonito sentiam…
Foram, depois, no carro dele, visitar um local que ele conhecia e que sabia que ela ia adorar… Pararam no alto de um monte para ele lhe mostrar o local que iam visitar lá em baixo, junto a um pequeno rio. Nessa altura, olharam-se e ele tomou a iniciativa, puxou-a para ele e beijou-a ternamente, ela não resistiu e correspondeu ao beijo dele, os lábios encontraram-se e uniram-se, os corpos juntaram-se, as mãos acarinharam-se…
Desceram ao rio, de mão dada, como dois namorados, passaram uma velha ponte romana e olharam o rio que corria lá em baixo entre o verde e as rochas. Ela apaixonou-se logo por aquele local, onde o rio corria mansamente por entre as enormes pedras, molharam as mãos e sentaram-se numa pedra, nos braços um do outro.
Trocaram carinhos, mais beijos, abriram-se, ele olhava-a enternecido, ela via no rosto dele o quanto gostava dela, sobrevieram as lágrimas que ele limpou ternamente, que ele provou, que ele amou... Foram almoçar juntos num restaurante simpático e durante a refeição falaram deles, dos seus sentimentos, do quanto gostariam de ficar juntos, do que os aproximava, olhavam-se encantados pela magia daquele momento, bebendo todos os minutos em que podiam estar juntos, partilhando-os.
Sentiam uma enorme vontade de se tocarem, o que acabaram por fazer por baixo da mesa, com os dedos entrelaçados, com o olhar sedutor dele no olhar expressivo dela… Tanto se amavam, que até doía…
Voltaram ao rio, descalçaram-se e brincaram com os pés na água, naquela tarde quente, naquele local maravilhoso. Sentaram-se no chão, o tempo passou a correr, eles isolaram-se do resto do mundo, desejando que as horas tivessem uma duração eterna… Os beijos tornaram-se mais intensos, mais intímos, mais sensuais, mais fortes… As mãos dele salpicaram-lhe o rosto com água, o peito, os seios, as pernas, os pés. Ela fechou os olhos, sentindo-se terrivelmente excitada, tal como ele, os dedos dele percorreram o corpo dela, confundindo-a pois não sabia onde terminava a água e começava o suave ronronar daqueles dedos marotos.
Deteve-se no seu centro de prazer, acariciou-a docemente, devagarinho, depois de forma mais intensa, penetrou-a com os dedos, ofereceu-lhe o prazer que a intensidade do momento, a beleza do local e o que sentiam um pelo outro os obrigavam a ter… O orgasmo dela foi brutal, intenso, com o corpo em convulsões e os lábios a soltarem palavras desconexas. Ele apertou-a contra si, para que ela sentisse que ele estava ali, que a protegeria sempre que ela precisasse, que a amaria se ela um dia pudesse…
Quase fizeram amor nessa tarde… os botões dos calções dele ainda chegaram a ser desapertados, mas depois sobreveio uma coisa que os humanos têm e que chamam consciência, no instante decisivo ela teve medo de dar aquele último passo e consumar a paixão que sentia por ele… A verdade é que ele a amava… e por isso respeitou o medo dela, por isso aguentou embora se sentisse terrivelmente excitado, mas, no entender dele, aceitar o não também era uma forma de lhe dizer que gostava dela, independentemente daquilo que a vida lhes reservasse…
Controlou-se, acarinhou-a, deu-lhe o conforto dos seus braços, voltou a limpar-lhe as lágrimas, salgadas, ao mesmo tempo tão doces, porque continham a intensidade do amor dela por ele… E, de facto, naquela tarde, naquele local, o quase aproximou-os ainda mais… Foram, na verdade, um só, não fora pela vida que já os tinha separado anteriormente e teriam ficado juntos, definitivamente, para sempre…
Caía a tarde, era tempo de voltarem… Subiram o monte, despediram-se do rio, atravessaram novamente a velha ponte romana e ficaram a contemplar, abraçados, as águas mansas que atravessavam o seu cantinho, onde o seu amor aconteceu. E no final do dia ainda tiveram tempo para partilharem um gelado, ele de chocolate, ela de limão…
Tinha ainda nos lábios o sabor dos lábios dela, sentia ainda aquele gostinho do seu carinho e no rosto as carícias que ela lhe tinha dado durante todo o dia… Ficou a vê-la ir embora, novamente com o coração apertado, novamente triste por amar alguém que não o podia amar livremente…
Nas suas costas, o por do sol era intenso, maravilhoso, contrastando com o negro que lhe ia na alma e que lhe fazia doer o peito. Uma lágrima fugidia espreitou-lhe nos olhos. O carro dela afastou-se no meio do trânsito… Ele fez-se à estrada e seguiu o seu caminho…
Um dia, talvez, quem sabe…
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