Correu tudo muito bem. A operação, a estadia, as pessoas que me acolheram nos Hospitais da Universidade de Coimbra. Fiquei fascinado pelo carinho que têm pelos doentes e a forma como os ajudam. Foi entrar na quarta, ser operado na quinta e sair na sexta-feira, com a barriga e peito cheio de buraquinhos e pensos. E sem vesícula. Mais leve, portanto, e com a recomendação de, pelo menos durante os primeiros dias, não entrar em grandes aventuras e deixar o corpo habituar-se. O que até nem está a ser difícil, uma vez que, tirando as mines que não bebo agora, já estava habituado a comer cozidos e grelhados, embora hoje tenha estufado rojões, com poucos temperos, e já tenha comido um pouquinho com arroz banco e ervilhas...
De salientar que deixei o computador em casa, uma vez que considero que há vida para além da net. Levei livros e comprei jornais. Li, enquanto o diabo esfrega um olho, "No reino dos Nabos", de Silvério Manata, Grão Mestre da Confraria Nabos e Companhia, um moço ali da Gândara que, para quem não sabe, são aquelas terras compreendidas entre o mar e a ria de Aveiro, como, por exemplo, Tocha e Mira. Não há comezainas de facto, há comezainas de literatura. Recomendo as histórias de Silvério Manata que nos trazem o cheiro da terra molhada e os sabores e saberes de tempos que agora já não seriam possíveis. E agradeço à Gi que me deu dois livros deste autor...
Isto vai. Um dia de cada vez. Porque é assim que a vida, nos dias que correm, tem de ser vivida...
Um abraço vadio, a gente vê-se por aí...
Primeiro, fui em busca de um abraço do meu filho, lá na escola. Depois, procurei o pôr-do-sol e deixei-me ficar, absorto nos meus medos, com um cigarro por companheiro. É engraçado, continuo sempre a precisar da solidão para lidar com as minhas coisas, nunca procuro a companhia de ninguém. Mais logo, hei-de dar um beijo ao meu filho que ainda não nasceu e abraçar a sua mãe. Porque tenho, por eles, de lidar com este medo que me cala fundo na alma...
Amanhã dou entrada no hospital para ser operado à vesícula, onde cresceu um cálculo enorme, com mais de 2 cm. Já sei que vou ficar sem a dita cuja e que hei-de andar a dieta por uns tempos, lá se vão os copos e as comezainas, e provavelmente também a barriguinha, mas isso é o menos preocupante.
É uma operação rotineira nos dias que correm, a "operação dos furinhos", mas não deixo de sentir algum receio. Não muito, é certo, mas fica sempre um friozinho na espinha quando se enfrenta uma sala de operações. Porque não sou só para mim, agora ainda mais há quem de mim precise...
Desejem-me sorte. Para que este não tenha sido o meu último pôr-do-sol. Nem o ultimo abraço. Porque também ainda me falta abraçar o Afonso...
Até já. A gente vê-se por aí...
Diz-se que o rapaz se há-de chamar Afonso. Ou até Dinis. Ou mesmo Tomás. É uma indecisão, ainda. Mas saúde é mesmo aquilo que se quer que ele traga...
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