Faço-me de pequenas coisas
Do teu abraço ao sair da escola
Da luz da tua gargalhada
Da alegria de jogar à bola
Faço-me de coisas simples
Do teu sorriso desdentado
De um filme de bonecos a meias
Do teu olhar de safado
Faço-me de coisas giras
De um por do sol vadio
Da estrada partilhar
Do nosso viver sadio
Faço-me de coisas meigas
Do teu cheiro a menino
Da musica que queres ouvir
Do teu mundo pequenino
Faço-me de coisas vividas
Do mar sempre a cantar
Das fotografias que tiras
Do brilho no teu olhar
Faço-me de coisas diárias
Do pequeno almoço de torradas
Da fralda que gostas de cheirar
Das bolachas às carradas
Faço-me de ti sempre
Todos os dias sem fim
Do quanto te amo
De tudo seres para mim...
homem de negro
poemas vadios
Nos últimos tempos têm sido em catadupa as notícias sobre a morte de crianças vitimas de leucemia. Alguns mais conhecidos, outros menos, mas todos crianças. Trouxe um caso para estas páginas, de um menino que queria ser engenheiro, mas a quem a doença traiu o desejo, li por aí muitos mais casos, ainda hoje de manhã foi a enterrar uma menina de oito anos vitima desta mesma doença...
Sinceramente, não sei que pensar. Sobressai-me a tristeza quando as notícias tristes são sobre crianças. Talvez por ser pai. Talvez por amar tanto este meu menino. Talvez por nunca se saber o que o amanhã nos reserva. Mas tenho muito medo. Porque esta deve ser a maior das dores, quando um pai enterra um filho. Vi como a minha mãe se desfez quando a morte levou a sua menina...
Apetecia-me apenas exorcizar este fantasma. Daí estas palavras. São meninos demais levados por esta doença maldita, são dores impossíveis de se retratar. Lutamos tanto para fazer dos nossos filhos gente grande, com princípios, com uma vida plena de sentido, com tantas brincadeiras à mistura, com passeios de mão dada e abraços muitos. E depois...
E se depois? Não temos já demasiados anjos no céu?
A gente vê-se por aí...
Pois, sei-o bem, o verde manda embora qualquer tom de cinzento e traz de novo o imenso azul. E o negro de outrora é agora realidade que havemos de viver, talvez dourada como o nascer do sol...
- recantos vadios
- velha paixão
- fotografia
- poesia
- musica
- copo e bucha...
- vadiagens de outrora