- Avozinha… - Avozinha… É tempo de parar, eu sei. De encontrar uma borda de estrada onde sossegar a menina vadia e acalmar a tristeza que lhe salta dos olhos. Chora copiosamente, como já tem acontecido outras vezes. Faz-me, igualmente, chorar a mim, como, igualmente, tem acontecido tantas outras… - Tenho tantas saudades da minha avozinha… Eu sei, meu filho, eu sei, murmuro com a voz embargada pelas lágrimas que me rolam rosto abaixo. Nas mãos dele a pasta azul de condolências com a foto da avó. Tão bonita. Tão serena. Enrosca-se no meu colo, está tão grande este meu menino. Beijo-lhe o rosto molhado, sabe a sal. E a tristeza. Sabe tanto a saudade… - Eu não sei viver sem a minha avozinha… Sabes sim, filho, ela vive no nosso coração. Ensino-lhe então que é do amor que sentimos pelos nossos mortos e das lágrimas que choramos por eles que vamos construindo caminho. Explico-lhe então que noutros dias tristes, foi ele que me fez lutar, da mesma forma que agora é graças a ele que volto a querer caminhar. Tão pequeno e já tão grande, este meu menino de olhar doce e suave… - Tenho tantas saudades de ti, mãe… Lá fora, é noite. Fria, com meia-lua, linda, no céu. A avozinha está por ali, filho, a tomar conta de nós. E a tia Elsa. E a avó Moira. Elas sabem que temos saudades e que às vezes choramos muito e temos dificuldade em andar para a frente. E de entender. Mas também velam por nós para que cheguemos sempre bem a casa. E faz bem chorar, alivia o coração. Como hoje. Como agora… - Um dia ela voltará a sorrir-nos… Nos meus braços, acalmamos, amainam mares revoltosos e tempestades. Limpo-lhe o rosto molhado. Beijo-o com ternura, pelo tanto que me encanta nestas alturas. Continua a saber a sal e a saudade. Mas vai-lhe brilhando no rosto a luz de um sorriso. Que eu sei como ir em busca do dele, que eu lembro-me como era fácil o dela... Um dia, algures, hás-de voltar a sorrir para nós…
Traço a palavras muitas
sentimentos de tantos dias
A forma que a vida tem
Tudo aquilo que querias...
Olhar, sempre, em frente
Por lá é, outra vez, o caminho
Busco coisas que já não são
Entre elas, esse carinho...
Viver, coisa ingrata, dolorosa
Alma vazia, coração triste
O tempo que tudo cura
Saudade, mágoa, porque partiste?
Deixa-me cá, eu sei
Que isto um dia não será
As lembranças do teu ser
A alma que não mais chorará...
Chora o homem, de novo
Em solidão, para viver
Vens comigo, no coração
Isso, nunca há-de morrer...
Tempo, esse mestre
Nada nos deixa esquecer
Sentimentos e memórias
Porém, ficar a perder...
Apartam-se almas
Por entre noites assim
Tudo, nada, confusão
Jamais sairás de mim...
É que eu, quero-te tanto
Não saberia não te ter...
- recantos vadios
- velha paixão
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- poesia
- musica
- copo e bucha...
- vadiagens de outrora