Quando eu morrer, dá-me um cravo vermelho, simbolo da liberdade, e leva-me ao mar. Não chores, a vida é o que mais bonito temos e eu procurei sempre viver a minha da forma mais pura possível...
Porque sei sorrir e sei chorar...
Bem-vindo sejas...
Terça-feira, 19 de Maio de 2009
Temos de ir...
A pouco e pouco percebi que as coisas começam a fazer mais sentido. No meio deste desnorte, ainda tenho, como diz a canção, vidas para acompanhar. Pessoas que dependem de mim para levar a sua vida em frente. Pessoas que, no fundo, me ajudam a levar a minha vida em frente. Seres a quem preparo as refeições, a quem cuido da roupa, a quem tenho de levar ao médico, a quem tenho, enfim, de amparar. E seguir a par...
Mas, acima de tudo, apercebi-me de uma coisa que me preocupou muito. Que o meu filho anda mais triste e mais distraído, na escola parece mais alheado. De alguma forma, ter ficado sem a sua avozinha estará a afectá-lo, a professora diz-me para lhe dar um pouquinho de tempo e ajudá-lo a digerir tudo isto. Mas também há culpas minhas...
Porque nos últimos tempos não temos brincado. Não lhe tenho lido histórias. Não temos ido ao Mcdonald's. Não temos ido jogar à bola para o parque ou até mesmo na estrada. Não temos ido aos matraquilhos. Nunca mais fomos ver comboios...
Tenho de voltar. Já fomos mandar pedras ao rio, já é um começo. Tenho de atirar fora o adormecimento e a vontade de estar sozinho. Tenho de ser o companheiro dele para as máfias e as malandrices. Temos de ir ver casinhas de formigas. Temos de ir ver o mar e esperar pelo por do sol. Porque simplesmente não tenho o direito de me fechar até para ele...
Temos de ir, filho. Vou ajudar-te a seguir em frente porque sei que isso me ajudará a mim. E se eu já sou velho nestas artes de tristeza, tu ainda estás a começar. Estava-me a esquecer de brincar contigo como antes, relembrei ontem quando deitaste a cabeça no meu braço e eu te li a história da Carochinha e do João Ratão. E riste a bom rir, como eu gosto de ouvir...
E hoje? Ok, uma pizza que um dia não são dias e uma matraquilhada para matar saudades, amanhã não há escola de manhã e eu vou fazer gazeta ao trabalho. Para dormir até mais tarde e depois brincar um bocadito ou jogar uma futebolada. Cá vamos...
É. Tenho mesmo vidas para acompanhar...
Quinta-feira, 7 de Maio de 2009
Seguir...
É este tempo que se escoa por entre os dedos que constrói no meu coração e na minha mente a muralha necessária para suster o mar revoltoso de sentimentos que me habitam. Um mês depois, tento apenas não me deixar perder na dor que me causa a ausência de quem tanto me amou e tanto de si me deu...
A vida é por demais estranha e tão brutalmente cruel, mas as conversas com o meu filho em que acabamos os dois abraçados a chorar, em que falamos da avozinha, em que partilhamos aquilo que sentimos, são o que mais nos ajuda a seguir em frente...
Nunca devemos ter medo de chorar, ensino isso ao meu filho. Todos os dias, em volta de uma qualquer música levamos a vida em frente. De manhã, quando saímos de casa, vamos em busca de uma flor do jardim do meu porto seguro para levar à professora, ficamos melhor. Vivemos. O melhor que sabemos e conseguimos...
A vida segue a par e passo da morte. Como sempre...
sinto-me: deixa apenas chover...
música: Perfeito vazio - Xutos & Pontapés