Parece-me que esta gente que se chega à frente, aos microfones, e disserta sobre a eutanásia, não sabe lá muito bem do que está a falar. Acredito que, em grande maioria, nunca passaram por nada dessa natureza, mas aprestam-se a tecer considerações que, pelo menos a mim, me revoltam os fígados...
Por isso aproveito hoje um texto que escrevi em tempos baseado na minha própria história. Alinhavei estas palavras vai para dois anos e meio e estas continuam tão actuais, tudo o que escrevi na altura podia ser dito hoje. Porque nos últimos dias a sociedade parece querer crucificar um pai que apenas quis deixar a filha partir em paz, depois de tantos anos a sofrer. Ambos a sofrer, ambos em paz. Um dia...
A eutanásia, para mim, deveria ser uma opção de quem sofre ou de quem pode, porque ama, decidir esse fim. E não digo isto de ânimo leve porque, há 17 ou 18 anos atrás, quando a minha irmã teve um avc e morreu, se tivesse sobrevivido seria apenas um vegetal, perderia todas as funções que faziam dela uma mulher lindíssima, perderia o seu sorriso, perderia a fala, perderia a loucura saudável dos seus 20 anos...
E nós, eu e os meus pais, morreríamos todos os dias enquanto ela vivesse, por vê-la ali naquele estado, deitada numa cama provavelmente com um tubo a alimentá-la, certamente sem ver, sem sentir, sem gostar, sem amar, sem conseguir poder ser dona das suas necessidades mais básicas... E não vale a pena o argumento de que hoje em dia se recupera de um avc porque recuperam apenas aqueles que os têm ligeiros e é facilmente perceptível a dificuldade com que recuperam, agora imaginem um avc massivo...
Se ela tivesse sobrevivido, não nos assistiria o direito, porque a amávamos, de poder decidir terminar com o sofrimento dela? De poder, por assim dizer, "desligar a máquina", a quem tanto gostava da vida e por um fim a um estado em que não há volta, não há retorno? Não teríamos nós, os que a amavam, o direito de não querer morrer um pouco em cada dia porque ela estaria a morrer todos os dias? Seríamos egoístas por isso? Seria colocado em causa o nosso amor?
Ainda posso traçar outro cenário: imaginem a dor de uma mãe a ver a filha naquela situação, sabendo que ela nunca mais seria a sua menina que lhe dava algumas dores de cabeça, mas que nem era das piores, imaginem o que sentiria a minha mãe se tivesse de passar o resto dos seus dias cuidando de quem nunca lhe pudesse devolver um carinho, um beijo, agradecer uma festa, voltar apenas nem que fosse por breves instantes. Não teria a minha mãe o direito de, porque amava a sua filha, decidir que era tempo de parar com a agonia? De conferir alguma dignidade a quem tanto amou? Será que eu ainda teria mãe hoje?
"Foi melhor assim", foram as palavras de um familiar meu para mim, um médico analista que assistiu à autópsia. Na altura pareceram-me palavras tão cruéis para dizer a quem chorava lágrimas de sangue, demasiado cruéis, mas que hoje fazem todo o sentido, embora eu lamente profundamente que nós, caso ela tivesse sobrevivido, nunca pudéssemos demonstrar à minha irmãzita que a amávamos profundamente e que por tanto a amarmos lhe iríamos "desligar a máquina"...
O assunto é polémico, a lei dos homens é estúpida e o direito à vida ou opção de terminar com ela deveria pertencer a cada um, ainda que legalmente suportado num conjunto de pressupostos médicos, racionais, afectivos, efectivos, reais, longe das ideias retrógradas, fundamentalistas e hipócritas da religião(de relembrar que o Vaticano pediu perdão para os responsáveis!!!), no pressuposto de que cada um deve ser dono de si... Se nascemos sem pedir, se morremos sem querer, porque não morremos quando desejamos?
Choro... ainda choro hoje.... ainda choro muitas vezes pelas saudades que tenho dela... E por tanto ter chorado, pelo muito que sofri, compreendo muito bem que o pai de Eluana quisesse parar com o sofrimento, que partiu três dias depois de desligada a alimentação, 17 anos depois do acidente, 10 anos a lutar em tribunal, tempo demais para quem necessitava apenas que a deixassem partir, finalmente em paz. E compreendo bem porque tive de ir em frente amparando o caminho dos meus pais, especialmente da minha mãe que, até hoje, ainda continua a chorar quando o assunto é a sua menina. Mas, e isso é tão verdade, foi melhor assim...
É por isso que eu acho que ao ler que o governo italiano considerou não ter chegado a tempo por não ter conseguido aprovar uma lei que evitasse este gesto do pai de Eluana, quando leio que o Vaticano pede perdão para os responsáveis, parece-me que esta gente não sabe mesmo do que está a falar. Não pode mesmo saber. Porque, quer eu, quer os meus pais, seríamos dos que que desligariam a máquina. Porque simplesmente a amávamos. Será assim tão difícil perceber a simplicidade lógica deste raciocínio?
A gente vê-se por aí...
Como a época é de carinho, amor e paixão aqui vos deixo algumas imagens que encontrei na net acerca do dia de S. Valentim...
Tudo começa assim...
continua assim...
com sorte, chega aqui...
o problema é se acaba assim...
Recuperação de um texto que veio à estampa corria o ano de 2007. Como este ano não me apeteceu escrevinhar nada, lembrei-me hoje de ir buscá-lo. Curiosamente, continuo a pensar da mesma forma e cada vez mais acho que este dia é bom mesmo é para os comerciantes.
No entanto, também continuo a achar que namorar faz bem à pele e que deixar de o fazer empobrece uma relação. Portanto, para os que podem, agora que se desligaram as luzes sobre o "dia de inchar", desatem a namorar. Todos os dias e mais que uma vez por dia, se for possível...
A gente vê-se por aí...
Coimbra, 2 de Fevereiro de 2009
Cara mia
Espero que estejas bem quando leres estas duas letritas que aqui alinhavo que nós por cá andamos bem, a par da muita chuva que já lavou o cheiro da terra molhada que tanto gostamos. Diz-se até que é o Janeiro mais chuvoso dos últimos 30 anos, o que também já era necessário para encher as nossas reservas de água. Quem não está muito satisfeito são os donos daquelas esplanadas à beira rio, onde tomar um café em boa companhia sabe tão bem, que estão inundadas. Mas adiante...
Prende-se a razão desta pequena carta com o teu aniversário, fazes hoje 38 anos e não poderia, de forma alguma, deixar passar em claro esta data, apesar de considerar que a partir de determinada altura os parabéns por mais um ano são o que menos gostamos de ouvir. Como é óbvio, teria de ser mestre Tim a acompanhar os meus votos de parabéns, ainda que a letra seja de uma banda de dias mais antigos...
Quero que saibas que estes anos em que aprendemos a conhecer-nos foram muito importantes para mim. Apesar dos altos e baixos, existes num cantinho muito especial do meu coração, atravessámos muitos escolhos neste mar revoltoso que é viver mas no fim sobra ainda mais carinho, daquele que sabemos dar um ao outro em dias muito difíceis. Porque nos outros não é necessário estarmos lado a lado. E no fim saímos sempre a ganhar..
És importante para mim, muito importante. Escusado será dizer que me doeram imenso os dias em que trocámos palavras mais azedas, os dias em que nos afastámos um do outro por coisas que na verdade vinham de fora e nada nos deveriam fazer. Porque sempre achei que o nosso gostar era especial. Mas a vantagem de ser amigo de alguém é que se sabe sempre como dar a volta e reacender o que realmente é verdadeiro quando se gosta apenas por gostar...
Não são necessárias mais palavras, caríssima. Apenas que saibas que hoje, como em tantos outros dias, eu que sou eu gosto muito de tu que és tu. Seja como for, que eu já me habituei a levar da vida as coisas boas que ela me vai dando. E é uma honra poder ser teu amigo, sabes...
Parabéns pelos teus 38 anos, espero que passes um dia muito bonito, na companhia de quem te possa fazer efectivamente feliz. E que hajam sempre malmequeres e sorrisos...
Um beijo vadio. A gente vê-se por aí...
Teu amigo
J.C.
(fonte: google)
Em noite de muita chuva, foi este nosso S. Pedro que resolveu. E até chora quando marca com esta camisola vestida...
Pá, deixem jogar o Mantorras...
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