Quando eu morrer, dá-me um cravo vermelho, simbolo da liberdade, e leva-me ao mar. Não chores, a vida é o que mais bonito temos e eu procurei sempre viver a minha da forma mais pura possível...
Porque sei sorrir e sei chorar...
Bem-vindo sejas...
Segunda-feira, 28 de Julho de 2008
Limpeza étnica...
O homem, jovem, movimentava-se num desespero agitado entre um grupo de mulheres vestidas de negro que ululavam lamentos. 'Perdi tudo!' 'O que é que perdeu?' perguntou-lhe um repórter.
'Entraram-me em casa, espatifaram tudo. Levaram o plasma, o DVD a aparelhagem...' Esta foi uma das esclarecedoras declarações dos auto desalojados da Quinta da Fonte.
A imagem do absurdo em que a assistência social se tornou em Portugal fica clara quando é complementada com as informações do presidente da Câmara de Loures: uma elevadíssima percentagem da população do bairro recebe rendimento de inserção social e paga 'quatro ou cinco euros de renda mensal' pelas habitações camarárias.
Dias depois, noutra reportagem outro jovem adulto mostrava a sua casa vandalizada, apontando a sala de onde tinham levado a TV e os DVD. A seguir, transtornadíssimo, ia ao que tinha sido o quarto dos filhos dizendo que 'até a TV e a playstation das crianças' lhe tinham roubado. Neste país, tão cheio de dificuldades para quem tem rendimentos declarados, dinheiro público não pode continuar a ser desviado para sustentar predadores profissionais dos fundos constituídos em boa fé para atender a situações excepcionais de carência. A culpa não é só de quem usufrui desses dinheiros. A principal responsabilidade destes desvios cai sobre os oportunismos políticos que à custa destas bizarras benesses, compraram votos de Norte a Sul.
É inexplicável num país de economias domésticas esfrangalhadas por uma Euribor com freio nos dentes que há famílias que pagam 'quatro ou cinco Euros de renda' à câmara de Loures e no fim do mês recebem o rendimento social de inserção que, se habilmente requerido por um grupo familiar de cinco ou seis pessoas, atinge quantias muito acima do ordenado mínimo. É inaceitável que estes beneficiários de tudo e mais alguma coisa ainda querem que os seus T2 e T3 a 'quatro ou cinco euros mensais' lhes sejam dados em zonas 'onde não haja pretos'. Não é o sistema em Portugal que marginaliza comunidades. O sistema é que se tem vindo a alhear da realidade e da decência e agora é confrontado por elas em plena rua com manifestações de índole intoleravelmente racista e saraivadas de balas de grande calibre disparadas com impunidade. O país inteiro viu uma dezena de homens armados a fazer fogo na via pública. Não foram detidos embora sejam facilmente identificáveis. Pelo contrário. Do silêncio cúmplice do grupo de marginais sai eloquente uma mensagem de ameaça de contorno criminoso - 'ou nos dão uma zona etnicamente limpa ou matamos.'
A resposta do Estado veio numa patética distribuição de flores a cabecilhas de gangs de traficantes e auto denominados representantes comunitários, entre os sorrisos da resignação embaraçada dos responsáveis autárquicos e do governo civil. Cá fora, no terreno, o único elemento que ainda nos separa da barbárie e da anarquia mantém na Quinta da Fonte uma guarda de 24 horas por dia com metralhadoras e coletes à prova de bala. Provavelmente, enquanto arriscam a vida neste parque temático de incongruências socio-políticas, os defensores do que nos resta de ordem pensam que ganham menos que um desses agregados familiares de profissionais da extorsão e que o ordenado da PSP deste mês de Julho se vai ressentir outra vez da subida da Euribor.
Chegou-me através da net, sem o nome de autor, mas acho que deve ser o que muita gente pensa. Limito-me a reproduzi-lo sem tecer quaisquer considerações, lembrando apenas que a minha mãe recebe 236 euros de pensão e o meu pai 276. E estes foram dos que trabalharam a vida toda...
A gente vê-se por aí...
música: Esquadrão da Morte - Da Weasel e Xutos & Pontapés
sinto-me: Não me fodam, pá...
Terça-feira, 22 de Julho de 2008
Em nome deles...
(fonte: internet)
Depois de tudo, de todas as notícias, de todo o aparato mediático, de todas as fantochadas, de todas as tentativas, de todas as lágrimas, de toda a dor, Maddie acaba apenas por ser mais uma a engrossar as listas de crianças desaparecidas que nunca mais regressam. Seja porque motivo for. E reforçando apenas a ideia que se esta criança cujo desaparecimento tão mediatizado foi não apareceu, que será das muitas das quais nem sequer ouvimos falar?
Para quem se encosta na entrada do quarto olhando o dormir de quem ama, hoje é um dia muito triste, como foi ontem, como será amanhã. Porque, e vêm-me as lágrimas ao dizer isto, esta criança, como todas aquelas de que não ouvimos falar, não merecia não poder ser criança, não merecia aquilo que lhe aconteceu, que provavelmente nunca chegaremos a saber o que foi. Nenhuma merece, sabem...
Por isso sorrio quando, muitas vezes, me dizem que eu pareço um miudito quando ando mais o meu filho. Porque quero tudo o que a sua meninice me puder proporcionar, quero viver a meias com ele as suas pequenas coisas, quero que seja uma criança feliz, quero que, como ontem, diga à mãe: "quero ir para casa do meu pai porque tenho muitas saudades dele"...
Quero apenas chegar a casa ao fim de um dia de calor e ir para o terraço tomar um banho de mangueira de ouvi-lo gritar de contente. Quero ver o seu sorriso enquanto apanha as maçãs da avó e ela lhe promete uma moeda. Quero que ele adormeça no meu braço, a cheirar a criança, e resmungue ao acordar porque não lhe apetece comer cereais...
Quero estas pequenas coisas porque sei que elas são voláteis e ele há-de crescer, ganhar asas e voar. As mesmas que a pequena Maddie não terá. Ou o Rui Pedro. Ou tantos outros meninos dos quais nem sabemos e que apenas viverão na memória daqueles que os amaram. Porque, quer se queira, quer não, em ultima análise, somos todos responsáveis por acontecerem coisas destas. E somos nós que ficamos a perder...
música: Tears in heaven - Eric Clapton
sinto-me: Triste...
Segunda-feira, 21 de Julho de 2008
Que não lhe doam as mãos...
(fonte: internet)
A verdade é que este blog de vez em quando se arroga como contestatário. Sendo o seu autor comunista assumido, ainda que apenas no plano das ideias e não militante de papel passado, de todo é impossível deixar passar as actuações de quem nos (des)governa, sendo que, se for necessário, as portas estão sempre abertas para quem quiser dizer de direito o que lhe vai na alma...
Posto o intróito, apraz-me saudar a existência do bastonário da Ordem dos Advogados que, pela primeira vez, nos faz sentir alguma simpatia pela profissão de advogado. Tive Marinho e Pinto como professor na Escola Superior de Educação e lembro-me que já na altura as suas prelecções eram desassombradas e as aulas como se fossem amenas cavaqueiras...
Tive o prazer de ir acompanhando, ainda que de longe, o seu caminho e sentir prazer em ler sobre as suas posições, ainda que de uma forma mais discreta porque a verdade é que ninguém "lhe passava cartão". Era apenas mais um cromo armado em revolucionário e com a mania que havia de mudar o mundo com as suas intervenções...
Agora é diferente. Marinho e Pinto está numa posição em que as câmaras incidem sobre ele e onde é colocado em lugar de destaque pela comunicação social. Calou-se o homem ou alterou o seu discurso? Não, antes pelo contrário, aproveitou para o reforçar, chamando a atenção para as inúmeras injustiças que grassam por este país fora, para as arrogâncias, para os esquemas, para os podres dentro da própria casa, para as coisas que "bradam aos céus"...
E o que vemos? As prima-donas como o José Miguel Júdice e o António Cluny a fazerem de virgens ofendidas com as palavras do senhor bastonário, a dizer que ele tem de se retratar e apresentar explicações. Bem podem esperar sentados que o homem não vai com histórias e apresenta factos concretos que todos os dias recebe e situações reais que todos os dias conhece...
É que com Marinho e Pinto o poder é populista, segundo ele se dizer a verdade é ser populista que assim seja, está na rua e nas mãos daqueles que não alinham com o sistema e se revoltam todos os dias. Com uma diferença, ele pode falar que será sempre escutado, embora eu não concorde com todas as suas posições, como é natural, saúdo-lhe a coragem, a determinação e a vontade de mudar algumas coisas...
O raio do homem tem um defeito, é certo. Não é comunista, mas também não podemos perfilhar todos do mesmo ideal. Mas fazia-nos falta um homem destes em local de onde pudesse, efectivamente, alterar algumas politicas desastrosas de que somos alvo. Isso é que era assunto...
Dê-lhes com força companheiro... E que não lhe doa a voz...
A gente vê-se por aí...
música: Coro da Primavera - Xutos e & Pontapés...
sinto-me: Com vontade de fazer merda...
Sexta-feira, 18 de Julho de 2008
O teu primeiro ano...
Quase me esquecia, mas um passarinho segredou-me ao ouvido, passa hoje um ano desde que chegaste a este nosso mundo, por volta da hora do almoço, que trouxeste muitas alegrias a quem teve a felicidade de ser tua mamã e teu papá. Joaninha, pequena companheira, aqui estou para te deixar votos de parabéns por este teu primeiro ano de vida, sei que és uma menina traquina e teimosa, dona de uma boa goela e de um sorriso maroto, mas também sei que em dias mais sem rumo serás sempre o norte de quem te quer bem e ama acima da própria vida...
Vocês, pequeninos, têm sempre o condão de nos orientar a nós, os grandes, mas tantas vezes mais pequenos que vocês. Quando cessam as traquinices e o João Pestana aparece, tantas vezes que ficamos simplesmente a olhar para vocês e sorrimos. E somos felizes porque em vós e no vosso bem estar reside a nossa maior felicidade e razão de viver...
Não estranhes que fale no plural, por aqui também há um pequeno ser que me dá todas as razões para viver, mesmo quando a vida parece sem sentido, mesmo quando os dias se apresentam cinzentos e vazios. Porque vos basta sorrir para nós sorrirmos também e tudo esquecer, tudo ter força para enfrentar...
Parabéns, pequena companheira, espero que sejas muito feliz porque sei que já fazes muito feliz quem te rodeia. Para ti mamã, um daqueles beijos especiais e um abraço de fazer estalar os ossos, como diria o meu pequenito, "um abraço à homem, com palmadinhas nas costas". Dos vadios para as princesas, trago de volta as frases de há um ano atrás para que, novamente, sorrias e saibas que valerá sempre a pena ir em frente...
Pede à tua mãe, um destes dias, que te leve a ver o mar, esse eterno amigo que nos enche a alma e nos deixa mais felizes só de o contemplar...
Pede à tua mãe que te deixe caminhar na areia, sentir nos teus deditos enterrarem-se naquela coisa esquisita que, acima de tudo, não é para comer...
Pede à tua mãe que te ofereça um por do sol, desses que nos faz maravilhar e sentir de bem com a vida, daqueles que nos faz amar o mundo...
Pede à tua mãe que deixe o vento acariciar-te o rosto, pois só ela sabe o quão delicado pode ser uma carícia vadia...
Pede à tua mãe que deixe o sol dançar contigo, beijando-te a face morena, depositando no teu rosto o calor de um beijo terno...
Pede à tua mãe que te leve a ver as nuvens e te ofereça o seu branco manto para que possas construir os teus sonhos em figuras imaginárias...
Pede à tua mãe que te ensine a gostar destas pequenas coisas e vais ver que serás, sempre, muito feliz porque nunca te faltará o mundo...
música: Joaninha - Da Weasel
sinto-me: Feliz por vocês...
Quarta-feira, 16 de Julho de 2008
Sem rumo...
De vez em quando, preciso apenas de ir. Sem destino, sem local escolhido para parar, limito-me a entrar na menina vadia e a partir. A estrada chama-me e eu tenho de ir, são os apelos vadios que me faz a minha alma. Como fez desta vez, pelo que, na companhia do meu filho, lá partimos sem destino. Por montes e vales, apenas partir...
Começámos pela Pampilhosa da Serra, onde almoçámos e fomos visitar a Barragem de Santa Luzia, local aprazível e muito bonito. Tempo então de jogar um pouco à bola a meias com um outro miudo que por lá se encontrava. E de comer gelados. E tirar fotografias, muitas, que o meu homenzito, apesar dos seus tenros seis anos, já vai empunhando a câmara e dando ao gatilho. Sem que a partida não tivesse sido feita com uma birra de todo o tamanho, que isto de ser puto e ter uma bola à mão é que é assunto, agora andar de terra em terra...
Tarde quente, ele a dormir no banco de trás, eu envolto com os meus pensamentos, a placa dizia apenas Castelo Branco. Fui, segui em frente por entre pinhais de delicioso cheiro, a meias com os eucaliptos. Depois uma outra placa, Nisa, fui rápido a pensar em Castelo de Vide e Marvão, mais rápido ainda a apontar o azimute para lá. Porque gosto imenso de visitar e fotografar castelos. De andar a pé em ruas estreitas e a cheirar a tempos medievais. Gosto tanto que já levo uma data de castelos nas minhas máquinas e ainda hei-de visitar mais, que me lembre já conheço Mangualde, Celorico, Marvão, Castelo de Vide, Almeida, Sesimbra, Sines, Evora, Beja, Portalegre, Lousã, Montemor-o-Velho, Pombal...
E gosto igualmente deste Alentejo que mistura os contrafortes rochosos com o ondular das searas, que nos permite dormir uma sesta numa sombra, mas nos dá igualmente as cores quentes dos campos dourados pelo sol. E alvas terras de umbrais das portas pintados a azul ou amarelo que nos transmitem um sentimento de paz e sossego...
Marvão e Castelo de Vide lá estavam no mesmo sítio onde os deixei da última vez que por lá passei, penso que é a terceira ou quarta vez que vou por lá. Lembro-me de ter levado lá a mãe do meu filho na nossa lua de mel, agora levei lá o meu filho e disse-lhe que eu e a mãe dele já alí tinhamos estado e ele mostrou-se muito interessado. Percorremos as ameias de Marvão e acabámos por pernoitar na Portagem, os secretos de porco preto e a jarra de cerveja cairam a matar num fim de dia cansativo e já com muitos kilómetros, um banho e dormir que se fazia tarde...
De manhã, um novo dia, a piscina fluvial foi o destino, uns mergulhos para endireitar os ossos naquela água gelada, o carro atestado de gasolina espanhola que custa menos 27 centimos por litro, uma almoçarada numa churrasqueira e toca andar para Castelo de Vide para ver mais um castelo e a Judiaria, alva e de ruas estreitas. Não deixo de lamentar é o mau estado em que está a torre do castelo e a fraqueza das mentes vândalas que por lá passam...
Depois do passeio, a pé como convém a quem gosta de fotografar, nada melhor que retemperar forças numa esplanada e descansar antes de nos fazermos à estrada, novamente. Mais uma vez, o filhote aproveitou para dormir a maior parte do caminho, ligo a música e vou seguindo em direcção a norte, para casa. E o mais engraçado é que o caminho de Marvão para Coimbra passou por Castelo Branco, Covilhã, Serra da Estrela (nunca tinha subido por aquele lado), Seia e casa...
Três dias, perto de mil quilómetros... A parte mais dificil de partir é sempre o regressar...
A gente vê-se por aí...
sinto-me: com vontade de ir...
música: Road to nowhere - Talking Heads
Segunda-feira, 14 de Julho de 2008
Mergulho no teu olhar...
Como sempre, apeteceu-me. Aquele mergulho que me refresca o ser e me dá alento. O banho de prazer que me dá ver o brilho no teu olhar. Portanto, apeteceu-me. E mergulhei. E, durante horas, deu para ver que estavas feliz. Que te sentias bem. Deu para ver, especialmente, que ainda é possível encontrar um pouco de paz, de cada vez que nos olhamos...
Seguimos caminho, sempre. Como sempre. Por aí, por caminhos que não esquecemos, que nunca esqueceremos, locais que nos fazem bem à alma. Mas o teu olhar sempre tudo domina, porque é nele que eu quero ver que ainda podes ser feliz. Que, não tenho dúvidas, quando nos olhamos somos, de facto, felizes. E o caminho, lugar comum, faz-se caminhando...
Se fosse uma escala de 0 a 10, não saberia dizer-te o quanto gosto de ti, mas saberia dizer-te que ver o teu olhar cheio de luz vale 10. Porque nele me revejo e encontro a vontade de prosseguir, de continuar por perto de ti, para que consigas ir mais além. Porque nada tenho que te exigir como amigo, mas tudo tenho para te confortar...
Apeteceu-me, simplesmente. Dar esse mergulho. Acarinhar-te o ser cansado e triste, dar sentido a essa existência que desprezas. Que nada te dá a não ser o vazio, julgas tu erradamente, a angústia de pensar que nada vale a pena. Sabes bem que combaterei isso até mais não poder...
Sabes, igualmente, que um sorriso vai bem com um brilho no olhar, com a força de um abraço, mas especialmente com a vontade de viver. Sabes que quando o amanhecer vem, talvez sejam as recordações que nos tragam a vontade de continuar, de olhar para o que nos rodeia com outra vontade. E o que nos rodeia pode ser tudo...
Mergulhei no teu olhar, apeteceu-me. E voltarei a mergulhar, noutros dias em que te apeteça ser feliz. Simplesmente, porque gosto muito de ti...
música: Olhos teus - Tim
sinto-me: Maldita segunda-feira...
Quinta-feira, 10 de Julho de 2008
Ensaio sobre a felicidade...
Pode a felicidade ser assim tão simples?
Bom fim de semana...
sinto-me: Bem, ele adora esta musica...
música: Fora de pé - Tim
Quarta-feira, 2 de Julho de 2008
Quando eu morrer...
Quando eu morrer, quero que chova, quero que pela ultima vez a Natureza verta as suas lágrimas sobre a, ainda fofa, terra da minha campa…
Quando eu morrer, quero que, pela última vez, aqueles que me conheceram sorriam e deitem sobre a minha recordação, sobre o meu frio leito de morte, cravos vermelhos porque estes são o símbolo da liberdade, da minha própria liberdade selvagem, da minha própria existência sem grilhetas de espécie alguma…
Quando eu morrer, quero que as pessoas que eu amei me prestem a sua última homenagem, se a tiverem, lembrando os momentos bons que porventura tive a felicidade de lhes dar, lembrando as conversas que tivemos e as dores que partilhámos, as lágrimas que um dia foram nossas…
Quando eu morrer, espero que ninguém dê lugar à tristeza porque triste é a vida com o ódio a que os homens se votam, triste é a diferença sem nexo que existe entre os homens e criada por eles mesmo…
Quando eu morrer, desejo que bebam e dancem em minha memória e das noites que partilhámos, quero que as recordações de mim sejam leves como leve é a música, como leve é o fumo do cigarro dividido entre as bebedeiras que curtiram a meu lado…
Quando eu morrer, desejo que as minhas palavras não sejam entendidas como uma justificação para a minha morte, são apenas uma espécie de testamento pois não é material a minha herança, esta deverá ser constituída apenas pelas simples recordações de uma vida onde, muitas vezes, os outros se tornaram tão ou mais importantes que o meu próprio ser, que a minha própria existência. Às vezes torna-se curioso como eu sou os outros, como tu és eu…
Quando eu morrer, quero que a solidão a que me votei tantas vezes e o negro que enverguei sejam entendidos como os espelhos de tudo o que vivi ou dei a viver porque a minha alma vive o nome que adoptei e morre um pouco de cada vez que os seres humanos aos quais pertenço se divertem a magoar, a ferir, a destruir…
Quando eu morrer, gostaria que o meu corpo fosse destruído pelo fogo, vadiasse pela terra e repousasse para sempre na dispersão do mar, para que parte de mim esteja sempre algures pois, no que respeita à minha alma, ela viverá, creio, numa solidão igual a si própria…
“Pensamentos Incompletos” – Homem de Negro
Bar-Pub Sécristia, 6/4/1991
sinto-me: Bem, sei falar da morte...
música: Quando eu morrer - Xutos & Pontapés